Se há um ciência que sempre dá um nó na cabeça de paisagistas e jardineiros, essa definitivamente é o espaçamento.
Você já se pegou em dúvida sobre qual espaçamento usar em seus canteiros, maciços ou renques? E quando as plantas no canteiro são de espécies diferentes? Aí a coisa complica ainda mais.
Mas não se desespere, esse artigo vai ajudar a eliminar de vez essa dúvida da sua mente, e facilitar seus cálculos na hora de comprar plantas para o jardim.
Em primeiro lugar entenda que, apesar de termos recomendações de espaçamentos para determinadas espécies já previamente estabelecidas, o espaçamento entre plantas pode variar conforme alguns fatores e não há uma regra exata. Entre estes fatores, devemos considerar:
- Disponibilidade de água: Terrenos úmidos ou com farta irrigação disponível permitirá plantios mais densos do que aqueles em que a água é um bem escasso.
- Fertilidade natural: Um solo fértil comporta mais plantas do que um solo pobre. Este fator, obviamente pode ser corrigido em jardins bem manejados e corrigidos.
- Orientação solar: Em áreas que recebem sol pleno, plantas que toleram ou necessitam de mais luz solar podem ser espaçadas mais próximas, pois tendem a buscar luz acima de expansão lateral. Em contraste, em áreas de sombra, um espaçamento maior pode ajudar na captação de luz disponível.
- Potencial genético: Dentro de uma mesma espécie, teremos plantas maiores e plantas menores, assim como plantas com maior potencial adaptativo do que outras, plantas mais alongadas versus plantas mais arredondadas, etc. Devemos então considerar a cultivar e seu potencial antes de escolher o melhor espaçamento.
- Tempo para formação: É bem verdade que alguns jardins podem necessitar estarem formados em um prazo definido, e que os plantios mais densos proporcionam o fechamento mais rápido. O que se aplica a gramados, cercas-vivas, muros cobertos por trepadeiras, canteiros de flores, etc. No entanto, em alguns casos, isso pode significar o desbaste futuro, para que o resultado a longo prazo não fique comprometido. Uma cerca viva densa, por exemplo, pode necessitar do desbaste alternado das mudas após alguns anos, para que as plantas restantes sejam mais saudáveis e compitam menos por água, espaço e nutrientes. Canteiros abafados de flores perenes, necessitarão de replantio e redistribuição das mudas de tempos em tempos pelos mesmos motivos. Via de regra, sempre será vantajoso o plantio denso de gramados, na forma de tapetes ou plugs, uma vez que quanto mais rápido a grama fechar a superfície do solo, antes teremos um melhor controle das ervas invasoras.
- Tamanho na maturidade: Por último e a mais importante premissa, ao se definir o espaçamento entre diferentes tipos de plantas, devemos avaliar o seu tamanho máximo, quando adulta. Esta regra é especialmente importante na hora de se planejar plantios de árvores, seja em pequenos grupos, bosques ou em linhas, uma vez que estamos tratando de plantas de grande porte, o manejo através de desbastes pode ser um tanto problemático e causar falhas no resultado final.
O espaçamento mal realizado pode comprometer o futuro desempenho das plantas e do conjunto, tanto estético quanto à saúde das plantas. Assim, devemos conhecer bem esses princípios que regem o cálculo do espaçamento entre plantas para não incorrer neste tipo de erro.
Quando espaçamos adequadamente as plantas, independente da espécie que estamos plantando, podemos calcular com o máximo de exatidão possível, o número de plantas necessárias a execução de um projeto de jardim, horta ou pomar. Além disso, podemos esperar o melhor desempenho possível das espécies escolhidas, uma vez que cada planta terá espaço para o seu pleno desenvolvimento. O espaçamento adequado também permite a melhor ventilação entre as plantas, o fechamento de maciços e renques de forma que pragas, doenças e plantas daninhas são controladas da melhor forma possível. Ele também permite o melhor aproveitamento do solo, iluminação, fertilização e irrigação. Pronto para começar?
Pode parecer óbvio, mas antes de pensar em calcular o espaçamento de qualquer planta, tenha em mãos as medidas da área a ser ajardinada. Além disso, sabendo as espécies e cultivares de plantas que tomarão parte no jardim, descubra o tamanho adulto de cada uma delas, preferencialmente a altura e o diâmetro.
Árvores:
Quando uma árvore é usada como ponto focal no jardim, o objetivo é que ela se destaque, o que significa que você quer muito espaço entre ela e a próxima árvore. Para um ótimo efeito de ponto focal, o ideal é que as árvores tenham pelo menos cinco vezes a largura do total de sua copa de espaço entre uma e outra. Leve em consideração sempre o tamanho da copa da árvore adulta, mesmo que você esteja plantando uma jovem muda.
Se o seu objetivo é criar um pequeno bosque, para um jardim sombreado, mas com bastante luz, reduza o espaçamento pela metade, ou a apenas um quarto do recomendado, para que elas cresçam rapidamente formando um dossel contínuo. Essa técnica funciona melhor com árvores que crescem mais altas do que largas, embora, o espaçamento estreito force qualquer árvore a ter um hábito de crescimento mais ereto do que largo. Além disso, árvores e palmeiras plantadas proximamente tendem a crescer mais rápido em altura do que se deixadas isoladas.
Em áreas pavimentadas, como calçadas, considere ainda que é preciso deixar um mínimo de 60 x 60 cm de área drenável entorno da árvore, sendo que é preferível pelo menos um metro. No entanto, não é preciso que essa área fique com solo descoberto. É possível instalar uma grelha, ou plantar alguma forração rasteira para que não surjam plantas daninhas.
Além disso, a distância sugerida para o espaçamento entre as árvores em áreas calçadas é em função do porte da planta. Para auxiliar o cálculo, as árvores são divididas em: Pequeno porte (5,0 – 6,0m de altura), Médio porte (7,0 – 10,0 m de altura) e Grande (10,0 – 15,0 m de altura). Não é recomendando plantar árvores de porte maior em áreas urbanas, uma vez que árvores muito grandes podem causar problemas próximo a edificações, como quedas de galhos, e destruição de tubulações enterradas por exemplo.
Se considerarmos a distância da árvore e elementos construtivos, devemos considerar como distância mínima para árvores de pequeno porte, pelo menos 2 metros de casas e edifícios, e pelo menos 1 metro de muros ou gradis, para as árvores de médio porte, essa distância sobe para 4 e 2 metros, respectivamente, e para árvores de grande porte, se eleva para 7 metros entre a árvore e edificações e 3 metros entre a árvore e o muro.
Outras distâncias importantes a considerar são:
Distância da muda à guia da calçada | 50 cm |
Distância de esquinas | 6 m de esquinas (para não atrapalhar o trânsito) |
Distância de postes de fiação e iluminação | 4 metros |
Distância de placas de sinalização de trânsito |
3 metros |
Distância de semáforos | 6 metros |
Distância de bocas-de-lobo e caixas de inspeção | 1,5 metros |
Distâncias de guias rebaixada (Acesso de veículos e cadeirantes) | 1,5 metros |
Arbustos:
Os arbustos são usados muitas vezes também como pontos focais – especialmente os grandes, conduzidos arredondados, em forma de vaso ou como arvoreta. Neste caso você pode seguir a mesma recomendação que utilizamos para árvores.
É frequente também o aproveitamento de arbustos na formação de cercas vivas. Nestas situações o objetivo deve ser espaçá-los mais próximos do que a largura da planta adulta. Ou seja, se a largura de um arbusto adulto é de 2 metros, é melhor espaçá-los a cada 1 metro. Geralmente os arbustos não sofrem por crescerem assim próximos uns dos outros, principalmente se forem bem manejados. Até por que o objetivo de uma cerca viva é o de parecer uma massa contínua de plantas, não sendo possível identificar à primeira vista onde começa uma planta e termina a outra.
Uma boa regra para espaçar os arbustos em uma cerca viva é calcular a metade da sua largura madura. Assim, um arbusto de um metro de largura, pode ser plantado a cada 50 centímetros. Lembrando que, quando desejamos formar mais rapidamente uma cerca-viva, podemos utilizar até mesmo o dobro da densidade, mas esta escolha pode comprometer a manutenção futura da cerca, se não for planejado um desbaste.
O desbaste planejado consiste em remover as plantas em excesso alternadamente, depois que a cerca viva estiver cheia e bem formada, de forma que ela não fique congestionada no futuro. Não tente arrancar os arbustos em excesso, ao invés disso, pode eles bem rente ao solo. Se tentar arrancar, provavelmente irá comprometer seriamente o sistema radicular dos arbustos vizinhos.
Trepadeiras
O espaçamento entre trepadeiras depende mais da largura entre os pilares da estrutura do que da espécie em questão. Assim não adianta aplicar a mesmo lógica usada em árvores e arbustos. A trepadeiras não se incomodam de crescerem juntas e muitas vezes são utilizadas para fornecer uma cortina verde. Então é bom plantá-las próximas para que cresçam rápido e fechem o espaço necessário.
- Grandes trepadeiras lenhosas, tais como parreiras, glicínias ou buganvílias, devem ser separadas por pelo menos dois metros.
- Trepadeiras perenes, porém mais delicadas como roseiras e jasmim-do-poetas, devem ser plantas uma a cada metro.
- Quando plantamos trepadeiras anuais, como corda-de-viola, ervilha-de-cheiro e olho-de-mulata, podemos abusar, e plantar uma a cada 30 centímetros.
- Trepadeiras para cobertura de muros chapiscados como unha-de-gato e hera-japonesa, podem ser espaçadas a intervalos de 50 centímetros ou mais.
Na maioria das vezes, as trepadeiras são espaçadas de acordo com a estrutura do suporte. Para caramanchões, plante uma de cada lado, para pérgolas o ideal é uma em cada poste, mas leve em consideração também o efeito desejado. Nem sempre desejamos cobrir toda a estrutura. Ao escolher os postes que receberão as mudas, prefira os melhor iluminados pelo sol.
Plantas Perenes
Existem algumas regrinhas que podemos utilizar para fazer o espaçamento de plantas perenes. Para termos um efeito de maciço ou de bordadura, podemos espaçá-las a cerca de 3/4 de sua largura esperada. Assim, elas formarão uma massa de plantas unidas e perderão a definição individual. Quando misturamos as espécies, formando canteiros mistos, podemos alternar pequenos maciços de algumas espécies, com outras plantadas individualmente e assim criaremos um interessante efeito campestre e colorido. Lembre-se que as espécies que formam massas baixas, são naturalmente ramificadas e tem formato arredondado são melhores para formar maciços contínuos, enquanto que os tipos mais longilíneos ficam valorizados quando plantados individualmente.
Caso queira um maciço com as plantas um pouco mais definidas, com ondas ou montículos, como quando utilizamos capins ornamentais, aumente o espaçamento, respeitando a largura da planta adulta. Ao espaçarmos mais do que isso, estaremos expondo áreas do canteiro por muito tempo, o que empobrece o solo e permite o surgimentos de plantas daninhas.
Alternativamente utilize pedriscos, seixos ou casca de pinus, para cobrir o solo dos canteiros, mantendo o efeito de plantas separadas, se este for o seu objetivo paisagístico. Neste caso, o espaçamento pode ser de até duas vezes a largura das plantas adultas.
Forrações
O ideal é plantar as forrações bem próximas umas das outras para que cubram rapidamente o solo, como em gramados, tapete-inglês, heras e grama-amendoim, pois elas tendem a se espalhar continuamente, e não é muito válido pensarmos no tamanho adulto da planta. Siga as recomendações para cada espécie e forma de plantio, mas pense sempre em cobrir o solo o mais rapidamente possível evitando o surgimento contínuo de ervas invasoras.
Neste caso, o que limitará a densidade da forração é o orçamento. Se você puder utilziar tapetes para cobrir a área, utilize, pois vale à pena. O efeito imediato e a proteção contra planta daninhas que o tapete oferece é recompensado.
Coberturas bem fechadas de pêlo-urso ou liríope, entre outras forrações entouceiradas, exigem plantios densos para obtermos um bom efeito, uma vez que elas crescem lentamente e não tem o comportamento de se espalhar como uma grama verdadeira.
Plantas Anuais
Podemos plantar as espécies anuais seguindo as mesmas regras utilizadas para o espaçamento de plantas perenes, principalmente quando estamos utilizando mudas prontas de caixaria. Mas se você for cultivar a partir de sementes, siga as recomendações da embalagem e faça o desbaste no momento correto, sempre utilizando a tesoura para não perturbar as raízes vizinhas.
Arrancar as plantas vizinhas pode até não matar o restante das plantas do canteiro, mas vai perturbá-las a ponto de atrasar seu desenvolvimento e pode comprometer o efeito final do canteiro ou maciço. A principal diferença no espaçamento das plantas anuais, é que sempre devemos considerar o efeito final do canteiro no próximo ano. Em canteiros de plantas perenes, temos a margem de trabalhar pensando num futuro mais longo, com a pretensão de fechar o canteiro em dois ou mais anos, principalmente se o cliente tiver pouco orçamento e paciência.
Hortaliças
Os vegetais que utilizamos em hortas, já foram largamente estudados em seus melhores espaçamentos de cultivo, ao contrário das plantas ornamentais, que ainda carecem de muitos estudos. Assim, a não ser que você utilize alguma técnica específica, que tenha um espaçamento pré-estabelecido, como no Square Feet Garden, poderá seguir a as recomendações das embalagens de sementes para utilizar nos seus plantios.
Faça plantios mais densos se deseja colher as plantas antes do previsto, como quando queremos folhas tenras de baby leaf ou até mesmo na produção de microverdes. Neste caso, a maior parte dos nutrientes que promovem o desenvolvimento inicial das plantas está nas sementes, e a competição não é um fator tão importante a considerar.
Espaçamento Vertical
Apesar de que o óbvio, quando pensamos em espaçamento, seja o plano horizontal. É interessante, quando estamos desenvolvendo um olhar de paisagista, planejar também o espaçamento vertical, com o projeto sendo pensado com múltiplas camadas de vegetação, tais como árvores, arbustos, forrações, etc. Assim, devemos considerar o espaço vertical para garantir que a composição fique balanceada, tenha um bom “ritmo”, e não pareça bagunçada ou aglomerada.
O objetivo é que cada camada da vegetação seja distinta, o que geralmente pode ser realizado seguindo a regra de terços (Sim! A mesma regra utilizada por fotógrafos e pintores para enquadramentos). Por exemplo, se você tem árvores grandes em sua propriedade, pode considerar plantar árvores pequenas e de sub-bosque num plano anterior a elas se a altura adulta não for maior do que um terço da árvore maior. O mesmo vale para o plantio de grandes arbustos sob árvores de tamanho médio e até mesmo para o plantio de pequenos arbustos adjacentes a grandes arbustos e forrações ao redor de plantas perenes. Sempre um relação ao outro. Parece meio complicado a princípio, mas como tempo o olhar fica treinado e conseguimos perceber a diferença. O resultado final é agradável e harmônico.
Por exemplo, uma única árvore de 30 metros de altura, poderia ter uma ou mais árvores de 10 metros de altura como sub-bosque, com arbustos de 3 metros abaixo, seguidos de pequenos arbustos de um metro e uma forração, com 10 centímetros de altura.
Conhecendo esses princípios básicos de espaçamento no paisagismo, além de termos referências e parâmetros melhores para calcular a quantidade de plantas de nosso projetos, teremos senso crítico também ao utilizarmos ferramentas de inteligência artificial, app e softwares de paisagismo, que não só calculam o espaçamento, como conseguem nos mostrar o desenvolvimento previsível das plantas. Desta forma, conseguimos avaliar se os resultados fornecidos são válidos e fazem sentido no jardim. Afinal, por mais aprimorada que seja a tecnologia, dificilmente ela terá a nossa percepção do espaço e da vegetação, para avaliar as melhores opções.
Para que você tenha boas referências do tamanho adulto de plantas ornamentais, eu sugiro o site Dave’s Garden (em inglês) que detalha muitas vezes o espaçamento recomendado, o diâmetro adulto e a altura adulta das plantas listadas. É um site que eu confio bastante para essa tarefa, embora nem sempre tenha todas as informações, ele costuma ser bastante completo para as espécies mais utilizadas no paisagismo.
Seja para um jardim doméstico ou um projeto paisagístico em grande escala, compreender e aplicar corretamente os princípios de espaçamento é fundamental para garantir a saúde, a beleza e a funcionalidade do espaço verde.
Ao seguir as diretrizes mencionadas, você não só otimizará o uso de recursos como água e nutrientes, mas também promoverá um ambiente mais harmonioso e sustentável. O espaçamento adequado permite que cada planta tenha o espaço necessário para prosperar, evitando competições prejudiciais e maximizando o potencial estético do arranjo.
Lembre-se que o conhecimento e a experiência são seus melhores aliados nessa jornada. À medida que você ganha mais prática, sua habilidade em ajustar o espaçamento para diferentes tipos de plantas e situações específicas continuará a se desenvolver. Cada planta e espaço são únicos, e a adaptação das regras às suas necessidades específicas é fundamental para alcançar os melhores resultados.
E você, está pronto para colocar em prática esses conhecimentos e transformar o visual do seu jardim?