Conhecida popularmente como Euphorbia Bonsai, a Euphoribia francoisii é uma planta suculenta, caudiciforme, de porte pequeno, que tem atraído a atenção de colecionadores e entusiastas de suculentas ao redor do mundo. Sua popularização se deve principalmente a viveiristas tailandeses, que desenvolveram diferentes cultivares da planta, em especial Santiporn Sangchai, conhecido como Mr. Lek. Esta espécie da família Euphorbiaceae combina características únicas, como folhas variadas, um caudex ornamental e flores discretas, mas elegantes.
A Euphorbia francoisii é uma espécie endêmica de Madagascar, a quarta maior ilha do mundo, localizada na costa sudeste da África. Esta planta evoluiu em um ecossistema que combina a biodiversidade de florestas tropicais com a aridez de áreas semidesérticas, características únicas da ilha. Ela habita predominantemente as regiões sul e sudeste da ilha, incluindo a Província de Taolanaro e Andrahomana, em altitudes de até 50 metros acima do nível do mar, crescendo em solos bem drenados e com alta concentração de calcário.
Essas áreas estão associadas a vegetação xerófila, composta por plantas que apresentam adaptações específicas para sobreviver em condições de baixa disponibilidade de água. A Euphorbia francoisii é um exemplo clássico disso, com um caudex engrossado e suas raízes tuberosas capazes de armazenar água, permitindo sua sobrevivência em longos períodos de estiagem. No entanto, devido à degradação do habitat causada por atividades humanas, a espécie enfrenta a ameaça de extinção em seu ambiente natural. Atualmente, a planta é encontrada quase exclusivamente em coleções particulares e em jardins botânicos.
O nome científico da planta, Euphorbia francoisii, mais amplamente divulgado, na verdade é considerado um sinônimo para Euphorbia decaryi, e remonta à primeira descrição oficial feita por Jacques Désiré Leandri em 1946. O gênero Euphorbia deriva do grego antigo Euphorbus, nome de um médico grego que teria usado plantas deste gênero para fins medicinais durante o reinado de Juba II, na antiga Mauritânia, cerca de 50 a.C. O gênero Euphorbia é vasto e diversificado, incluindo desde pequenas suculentas até grandes arbustos, todos caracterizados pela presença de um látex leitoso que pode ser tóxico ou irritante.
Na cultura popular e no comércio de plantas ornamentais, Euphorbia francoisii ganhou o apelido de Euphorbia Bonsai devido à sua aparência que remete a árvores em miniatura. Trata-se de um arbusto pequeno, decumbente ou prostrada, com sistema radicular tuberoso, napiforme, que se une ao caule através de um caudex engrossado de até 3cm de diâmetro. Seus caules ou ramos são proeminentes e com cicatrizes foliares em espiral. Os caules podem ser angulares ou arredondados, com apêndices estipulares que se tornam estruturas espinhosas com o tempo.
As folhas são dispostas em espiral, suculentas a coriáceas, com formas variadas, incluindo elípticas, lanceoladas e romboides. Elas apresentam superfícies brilhantes, com veias proeminentes, frequentemente apresentando papilas epidérmicas, conferindo textura áspera e margens onduladas. Suas formas variam não somente entre os indivíduos, variedades e cultivares, mas dentro do mesmo espécime, adquirindo formas e cores diferentes conforme a posição ou as condições ambientais. Esta enorme variação se deve ao fato dessas plantas serem hexaplóides e lhes permitem muitas possibilidades de seleção. As inflorescências surgem no final da primavera e verão, são do tipo ciátio, terminais, de cor rosada ou esverdeada, com brácteas muitas vezes maiores do que as flores.
A Euphorbia francoisii pode ser trabalhada para criar belíssimos exemplares plantas em miniatura. Apesar de ser resistente e adaptável, a manutenção dessa espécie exige atenção cuidadosa para que ela prospere com saúde e vitalidade, principalmente no começo, até sua completa adaptação. Seu cultivo depende de um ambiente bem iluminado, solo adequado e uma rotina de regas criteriosa.
Esta espécie exige bastante luz solar, preferindo sol pleno ou, no mínimo, sombra leve. Sob luz direta, suas folhas desenvolvem cores mais vibrantes e texturas mais marcantes, enquanto o cultivo em áreas sombreadas pode levar a um crescimento estiolado, com caules mais finos e internódios alongados. Durante o inverno, quando a planta entra em um estado de semi-dormência, é essencial manter uma boa iluminação para evitar que sua saúde seja comprometida.
O solo ideal para a Euphorbia francoisii deve ser bem drenável, composto principalmente de materiais inorgânicos, como pedra-pomes, brita e argila expandida, com uma pequena quantidade de matéria orgânica, como turfa ou chips de côco. Essa formulação previne o acúmulo de umidade ao redor do caudex e raízes, reduzindo o risco de apodrecimento.
Durante o verão, a planta precisa de uma rega regular e abundante, com drenagem perfeita. A regra é simples: regue profundamente apenas quando o substrato estiver completamente seco. Durante o inverno, o intervalo entre as regas deve ser aumentado ou mesmo suspenso para evitar que a umidade excessiva cause danos, uma vez que a Euphorbia francoisii é especialmente suscetível ao apodrecimento se mantida fria e úmida fora da estação de crescimento ativa.
No verão, utilize um fertilizante específico para cactos e suculentas, rico em potássio e micronutrientes, aplicando-o mensalmente ou conforme as instruções do produto. Para plantas cultivadas em solos muito pobres ou em vasos, essa prática é ainda mais crucial, pois ajuda a sustentar o desenvolvimento de novas folhas e a saúde do caudex. Evite os adubos orgânicos como húmus de minhoca ou tortas oleaginosas, que podem apodrecer e prejudicar a drenagem do substrato.
Para que o caudex e raízes tuberosas da Euphorbia bonsai fiquem visíveis, demonstrando todas suas qualidades esculturais, é necessário realizar o levantamento do caudex durante o replantio da planta. Assegure-se de efetuar essa operação em plantas já bem adaptadas e com crescimento considerável. Mudas pequenas podem não resistir. Primeiramente desenterre a planta com delicadeza, lave suas raízes e remova aquelas de calibre fino que estejam comprometendo a estética da parte que ficará acima do substrato. Depois plante normalmente, mantendo a parte escultural elevada. Independente de levantar o caudex ou não, realize o replantio para troca do substrato a cada dois anos. Remova os ramos mortos na ocasião.
A Euphorbia francoisii pode ser propagada tanto por sementes quanto por estacas. Cada método tem suas particularidades e desafios, sendo o uso de estacas o mais comum devido à dificuldade de obtenção e germinação de sementes viáveis. A propagação por estacas deve ser feita preferencialmente na primavera, quando as condições ambientais são mais favoráveis. Para realizar o procedimento, corte um segmento saudável logo abaixo de um nó foliar, sempre utilizando ferramentas limpas para evitar a contaminação por fungos ou bactérias.
Deixe o corte secar por alguns dias em um local protegido, permitindo que a ferida cicatrize completamente—a ausência desse cuidado pode levar ao apodrecimento da estaca antes do enraizamento. Após o período de cicatrização, insira a ponta do caule parcialmente em um substrato bem drenante e mantenha o ambiente ligeiramente úmido, mas nunca encharcado. As raízes geralmente se desenvolvem em cerca de duas semanas, momento em que a nova planta pode ser transferida para um local definitivo com condições ideais de crescimento.
Já a propagação por sementes é menos comum devido ao tempo necessário para que a planta amadureça, mas crucial para aqueles que desejam se aventurar nas hibridizações e seleção genética. Além disso o desenvolvimento perfeito do caudex, e o aspecto menos ramificado é obtido apenas através do plantio de sementes. As sementes da Euphorbia francoisii perdem rapidamente a viabilidade após a colheita, por isso devem ser plantadas imediatamente. Durante a germinação, o solo deve permanecer úmido, mas nunca saturado. Embora a germinação ocorra em uma ou duas semanas, o desenvolvimento da planta é lento, podendo levar anos para que ela atinja a maturidade e desenvolva o caudex característico.