
– Qual a sua formação e como foi a escolha pela profissão de paisagista?
Sou formada em Artes Plásticas pela UFPR, Curitiba /PR, em 1988 e em Tecnologia em Paisagismo e Jardinagem pela UNC – Canoinhas/SC em 2008. Sempre adorei jardins e hortas, ainda muito pequena acompanhava minha avó nos cuidados com seus canteiros de temperos, hortaliças e flores. Fazer mudinhas, semear, podar, dar “comida e água”, colher, arrumar um vaso com flores e folhas coloridas ou desfrutar de uma cenoura fresquinha sempre foram atividades extremamente prazerosas. Também naquela época a volta da escola era o momento certo para a colheita das espécies diferentes (matinhos floridos) para minha coleção de plantas. O tempo foi passando e decidi que queria ser professora. Mudei para Curitiba e durante quatro anos cursei Artes Plásticas na UFPR. Foram anos difíceis, mudar para uma cidade grande e morar num apartamento.
Terminada a faculdade, retornei a Rio Negrinho para lecionar para crianças e adolescentes. Nessa época cultivava apenas o jardim da minha casa e não imaginava que mudaria de profissão. A minha coleção de plantas começou a crescer e muitas espécies de flores, arbustos e árvores começaram a ganhar uma disposição mais elaborada no meu jardim, que acabou virando observatório e laboratório de idéias. Tudo o que dizia respeito a paisagismo me interessava, revistas, livros, floriculturas, jardins botânicos, praças e parques. Foi em 2004 que de forma voluntária projetei e acompanhei a execução do trevo principal de acesso a Rio Negrinho. Em 2005 veio o Curso de Paisagismo e Jardinagem na Universidade do Contestado e a necessidade de me organizar como profissional fez nascer a empresa Ornato Jardins. Hoje com 10 anos de trabalho e dedicação me sinto paisagista, não sei dizer exatamente quando foi que escolhi ou se escolhi, às vezes tenho a impressão que já nasci paisagista.
– Quais são suas principais influências?
Em 2004 quando fui convidada a projetar o trevo principal de Rio Negrinho, fui a Holambra fazer o Curso de Manejo de Áreas Verdes, foi aí que conheci Gustaaf Winters, pessoa incrível e grande paisagista. Dez anos se passaram, e os seus ensinamentos, que vieram na minha bagagem, fazem parte do meu dia a dia. Em 2005, conheci Murilo Passos, arquiteto professor do curso de Paisagismo da UNC, grande mestre e amigo. Durante quatro anos estivemos juntos, foram aulas e mais aulas, seminários, projetos, conversas e mais conversas, devaneios. Foi nessa época, pesquisando sobre a obra e a vida de Roberto Burle Marx, que me apaixonei mais ainda pelo paisagismo. Para mim uma de suas frases mais marcantes é esta :
“Se me perguntarem se prefiro criar jardins coletivos ou particulares, sem pestanejar respondo que gosto que meus projetos sejam usufruídos pela coletividade. Sempre tive medo de viver e não contribuir com alguma coisa. – Roberto Burle Marx”
Acredito que ele tenha contribuído com muito mais do que imaginava. Com certeza a grande maioria dos projetos que vemos hoje tem alguma influência do grande paisagista que ele foi.
– Quais plantas você mais gosta de usar em seus projetos e porquê?
A maioria dos meus projetos são para grandes áreas, sendo assim são sempre muitas e muitas plantas diferentes, sendo assim é difícil escolher alguma em especial. Gosto de Cerejeiras Ornamentais, pelas suas folhas caducas e pelo espetáculo das suas floradas, dão dinamismo à paisagem. Considero as Abélias arbustos versáteis, estão sempre vivas e florescem abundantemente, além da rusticidade do cultivo aceitam qualquer tipo de poda. Os Ofiopogos e os Agapantos, funcionam muito bem como forração, apresentam variedade de cores e tamanhos e são de fácil manutenção, principalmente em grandes áreas – isso é um grande diferencial. E claro, as Bougainvilleas, que não sem motivo são popularmente conhecidas como Primavera, com suas floradas espetaculares e cores variadas, ela é uma das nativas que mais uso nos meus projetos, e aqui na minha região é uma das preferidas pelos clientes.
– Quem são os seus clientes? Você trabalha mais com residências, empresas ou áreas públicas?
Numa cidade pequena, você acaba atendendo a todos os setores. Há cinco anos desenvolvo um trabalho junto à Prefeitura de Rio Negrinho. Atendo a muitos projetos residenciais em Rio Negrinho e na vizinha cidade de São Bento do Sul, e grande parte do meu trabalho se concentra nas chácaras da serra de Campo Alegre.
– Quais são os principais projetos que a Ornato Jardins vem executando atualmente?
Acabei de renovar contrato com a Prefeitura de Rio Negrinho, e um dos projetos que estão sendo desenvolvidos prevê a implantação dos jardins no Centro Cívico, no centro da cidade, em uma área que abrigava a antiga Móveis Cimo, em volta da qual nasceu a Rio Negrinho. A manutenção dos projetos implantados nas chácaras de Campo Alegre, e a implantação de jardins em novas propriedades também estão na agenda.
– Quais as peculiaridades da região do Planalto Norte de Santa Catarina para o paisagismo e jardinagem?
Nossa região, na média está a 800 metros de altitude. Isso nos dá um inverno rigoroso, muito frio e muito úmido. Ao mesmo passo que estamos muito perto dos grandes produtores de plantas ornamentais da região de Joinville, necessitamos buscar plantas para o clima serrano. A região foi colonizada por alemães e poloneses, os jardins tendem a ser floridos e mais orgânicos.
– Que tendências do paisagismo você considera mais promissoras atualmente?
A cada dia as pessoas estão mais atentas ao Meio Ambiente, e têm percebido que é vital que todos cuidem do planeta. Todas as ações e interações em relação à paisagem devem ser pensadas como um todo, mesmo o menor jardim, faz parte do todo e o influencia. Acredito que o Paisagismo Ecológico é o caminho mais acertado para trilharmos como profissionais. Pequenas atitudes na hora de projetar, implantar e manter essas áreas devem ser consideradas, a utilização de plantas menos exigentes em regas, forrações de fácil manutenção, o cuidado para não usar plantas exóticas que possam se tornar invasoras, a utilização de inseticidas naturais, a compostagem para a adubação e a utilização de espécies nativas, com certeza contribuem para o equilíbrio do planeta. É possível sim criar jardins repletos de beleza sem agredir a natureza. Afinal, como dizia o poeta: beleza é fundamental! E quando a beleza vem acompanhada do respeito ao planeta é genial.
Não existe qualidade de vida sem o contato com a natureza. Infelizmente a maioria das cidades cresce sem um planejamento adequado. Para viver bem é preciso sentir-se bem dentro e fora de casa. As construções pipocam nas cidades sem considerar o entorno. E quando o caos se instala as pessoas se dão conta de que esqueceram alguma coisa. Geralmente o paisagista é chamado para atenuar o impacto causado pelas interferências na paisagem. Quando o paisagismo é levado a sério no planejamento de uma cidade, todos ganham, e o resultado dessa ação se chama qualidade de vida.
Paisagista: Ciliane Raquel Wille Augustin
Ornato Jardins (página no Facebook)
Projeto, Execução e Manutenção de Jardins e Garden Center
Endereço: Rua Roberto Lampe, 73, Rio Negrinho – SC
Telefone: (047) 9146.6718
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